Sunday, November 26, 2006

Um livro de 1916 - Samuel Maia

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Não conhece o médico e ilustre escritor Samuel Maia?
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Nome: Samuel Domingos Maia de Loureiro
Nascimento: 1874, Ribafeita, Viseu
Morte: 1951, Lisboa
Médico, romancista, poeta e dramaturgo

Em 1929, um artigo no parisiense "Le Figaro"(*) sobre os escritores mais importantes de Portugal refere-se a Eugénio de Castro, Augusto Gil, António Nobre, Aquilino, Samuel Maia, Lopes de Mendonça e Ferreira de Castro (FRANÇA: 129). Ou seja, o autor viseense gozava então de uma incontestável centralidade, o que, talvez por força dos modismos, até dos próprios profissionais da literatura, não se verifica na actualidade.
Também já me referi a Samuel Maia em post anterior.
Hoje volto a este assunto derivado a uma circunstância algo invulgar. Há dias recebi um e-mail com remetente que se identificou como sendo de Leça da Palmeira e que me anunciava que tinha de sua posse o livro “Mudança d´Ares” de Samuel Maia.
Muito gostaria de saber das voltas que este livro terá dado desde a data da sua publicação em 1916. O meu interlocutor refere-se ao espólio de uma herança e que tinha muita pena se este livro acabasse por ter um destino menos digno. Soube que eu me interessava pelo trabalho de Samuel Maia, através de tentativas ensaísticas publicadas na Net baseadas no trabalho de Martin Sousa. Por sinal, este investigador, na altura da publicação do seu trabalho, mostrava-se indeciso quanto à data da publicação deste livro: 1915?1916?
Resumindo e concluindo: aquele livro acabou por me chegar às mãos.
Foi com grande emoção que o folheei, muito velhinho mas conservado, com todas as folhas, capa e contracapa. Trata-se de um romance, muito entrelaçado com cartas de Lisboa para a Beira Alta e vice-versa. Foca interessantíssimos aspectos da vida daquela época, quer na cidade de Lisboa, quer nas terras do interior Beirão, centralizado muito na zona da freguesia de Ribafeita, em Viseu – segundo as minhas deduções, após a sua leitura.
Mandei-o encadernar, aqui em Leiria, numa oficina que tem um Mestre nesta arte, pessoa idosa, com uma sensibilidade para este tipo de trabalhos fora do vulgar. Diz que, lamentavelmente, já não há quem queira aprender aquela arte.
A minha emoção é mais particularmente intensa porque o Dr. Samuel Maia foi uma figura incontornável ligada à minha aldeia natal. Foi senhor da Quinta do “Cimo do Povo”, uma referência importantíssima para o lugar de Casal, ainda hoje, e que continua nas mãos de um seu neto.
Tempos houveram em que a população do Casal de Ribafeita vivia, numa grande medida, do trabalho "à jorna", nas terras do Dr. Samuel Maia, que eram muitas.
Ainda me lembro, nas minhas frequentes e prolongadas idas à aldeia, de ver grupos de mulheres a irem “para as ceifas” da cevada e do centeio. À noite juntavam-se todas numa grande sala, lá dentro uma grande mesa, na qual ceavam à farta.
Também fazia parte da “paga” a autorização para ir apanhar em determinado dia, cerejas das boas e vistosas cerejeiras, que havia nas ditas propriedades do Dr. Samuel Maia/herdeiros.
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(*) A referência, no documento guia, ao parisiense "Le Monde" só poderá ser entendida como um lapso do investigador com cujo trabalho me iniciei neste meu modesto estudo com as motivações que já expus. De facto, o jornal parisiense que circulava na época em análise chamava-se "Le Figaro", fundado em 1854 e que acompanhou de perto os movimentos literários do Naturalismo/Positivismo e do Simbolismo. Samuel Maia começou por ser um Naturalista convicto, bastando para isso reparar nos seus trabalhos sobre a vinha e o vinho, entre outros.
O "Le Monde" relacionando-o com o famoso jornal parisiense da actualidade foi fundado em 1944.
Agradeço também a ajuda preciosa de quem me tem dado umas dicas por e-mail.

2 comments:

al cardoso said...

Bem haja por divulgar mais um personagem da "nossa" Beira.

Um abraco fornense.

Neoarqueo said...

subscrevo as palavras do amigo AL.