Tuesday, February 08, 2011

Esperança?! Casa arrombada trancas à porta!...


08-02-2011 12:20 -     Esperança  
Nem tão pouco o desemprego, ou mesmo a falta de qualificação da mão-de-obra. Nem sequer a situação de descapitalização e falta de liquidez do sector financeiro e consequente "desalavancagem", eufemismo encontrado para denominar o processo de contracção de crédito e logo do investimento pelo qual a economia está a passar. O nosso verdadeiro problema, espelhado pela ausência de indignação face à situação actual, pela evidente atitude de resignação, pelo espírito pessimista dominante na população e agentes económicos, consiste, afinal, numa profunda ausência de esperança em relação ao futuro.


A economia faz-se de expectativas. Tendo os portugueses perdido a esperança no futuro, actuam em conformidade. Não investindo. Poupando em vez de consumir. Quem tem recursos aplica-os em activos externos. Quem tem mobilidade opta por sair. Hoje, temos uma emigração dual, onde o peso dos qualificados é crescente. Os imigrantes regressam aos países de origem.
O estado geral dos agentes económicos é depressivo. Assim não há economia que cresça, por muito que o marketing propagandístico oficial nos tente vender a imagem de um país virtual que a generalidade dos cidadãos não reconhece.


A agora famosa canção dos Deolinda é, em si mesmo, exemplar: 
uma geração a quem o poder deixou o encargo de trabalhar uma vida inteira para pagar as dívidas da irresponsabilidade passada protesta em canto. 
Mas ainda não se revoltou. 
Esta é a geração dos que estudaram "para ser escravos". Mas como por cá não os escravizam, não lhes dando emprego, tentam emigrar. Se o fizerem, ganham mais na escravidão e escapam a pagar as dívidas da geração anterior. Esta paga o preço da sua irresponsabilidade ficando sem pensão decente. Perante tal perspectiva, não há optimismo que resista. Para nenhuma das gerações.


Perante o pessimismo, a população olha para o poder, como o sempre fez durante séculos. Acreditamos que será sempre do Estado que virá a salvação. Mas não vale a pena ter ilusões. Durante a maior parte desta década, o Estado estará demasiado ocupado a reorganizar-se, a redefinir as suas funções, a reduzir a despesa e a dívida e a diminuir o fardo que a todos impõe via maiores impostos e menores benefícios sociais. Não será, seguramente, através da despesa pública que a economia será relançada, ainda que essa fosse uma forma eficaz de o fazer.


Inverter o pessimismo das expectativas vai depender do aparecimento de uma figura com efectivas capacidades de transmitir optimismo através de uma liderança inspiracional. Sebastianismos à parte, até pode ser que tal figura surja no meio político. Mas duvido de que o Estado, com os problemas urgentes que terá de enfrentar, tenha meios para formular, comunicar, liderar e implementar um verdadeiro processo de reformulação estratégica do País, em geral, e da economia, em particular. Mas não percamos a esperança.


É altura de deixarmos de olhar para o Estado como líder da economia e da sociedade. O modelo está esgotado e conduziu-nos onde agora estamos. A economia, para dar o salto, necessita de se libertar dessa relação simbiótica com o(s) poder(es) político(s) e fazer valer-se por si mesma. O crescimento da economia terá de passar a ser liderado pelo sector empresarial. Necessitamos, enquanto Nação, de ver umas quantas empresas assumir a liderança do processo de modernização e inovação empresariais. E por arrastamento, do País. Precisamos mais de Nokias e Zaras do que de discursos políticos. Infelizmente, uma boa parte - mas não toda - das grandes empresas nacionais habituou-se em demasia a viver à mesa do Estado e do Orçamento. Por isso, também aqui há razões para pessimismo. As excepções, os poucos que até em público ousam criticar o omnipotente Estado, estão entre aqueles que maior sucesso atingiram no exterior. Não sendo estado-dependentes, estão habituados a suceder por mérito próprio, contra a concorrência agressiva dos actores internacionais. É esta a nossa última esperança. Mas se a estas empresas e suas lideranças forem negados os meios para investir e actuar, no contexto do propalado "processo de desalavancagem" resultante da actuação incompetente do Estado, então não haverá qualquer perspectiva de esperança para a economia nacional. Não será uma nova década perdida: serão várias gerações perdidas.


Professor da Universidade Nova de Lisboa
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Jornal de Negócios - Paulo Pinho


------------COMENTÁRIO DO AUTOR  DO BLOGUE:----
Permito-me, como autor deste blogue, assumir a seguinte opinião:


1- É do mínimo bom-senso não se gastar mais do que se consegue receber (ressalvando futuras potenciais receitas solidamente fundamentadas);
2- O desequilíbrio das contas públicas portuguesas já tinha a tendência notória de crescimento exponencial desde os tempos do "cavaquismo" dos anos 90. Que se fez na altura? Os políticos não usaram de terapias rudes, como pelos vistos se impunha, porque tinham medo da reacção popular, nas eleições que se seguissem;
3- Face às medidas drásticas que finalmente se estão a tomar, da forma brutal como começa a ser cada vez mais notório, que fazer?:
- Queimar na fogueira da indignação a actual equipa Governamental e a sua imagem de marca, José Sócrates?
- Dar uma oportunidade a outro partido da mesma área ideológica (na prática)? Ou seja, mudar as caras mas não a política? Isto é, alinhar no jogo do assalto ao poder, nem que para isso seja necessário que as chamadas direita e esquerda da oposição Parlamentar se postem do mesmo lado da barricada?
- Escavacar tudo indo para a rua fazer barulho a reclamar indiscriminadamente contra tudo e contra todos?
- Ter Esperança? Em que a União Europeia nos ajude a resolver a nossa faraónica Dívida Pública? 
- Ajuda da UE? Que tipo de ajuda? Só com um perdão de parte da nossa dívida pública aliado a forte contenção nos gastos públicos é que poderemos ter alguma hipótese de por as contas em dia!


Creio que não restará outra possibilidade de restabelecer algum equilíbrio na zona da UE senão usando de um grande espírito de Solidariedade para com os países Europeus ditos periféricos! Doutra forma ainda vamos assistir ao funeral do Euro e de perturbações de repercussão incomensurável em toda a Europa e no Mundo!


(Copyright © António S. Nunes)

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