Seguíamos, eu e a Zaida, de carro, Avenida das Comunidades (Leiria) abaixo, sem grande pressa, tínhamos encontro marcado com Florbela Espanca, na Nazaré, no Centro Cultural, uma conversa sobre a sua vida e a sua obra, os nossos amigos e companheiros de tantas tertúlias de poesia, o casal Soares Duarte, já lá estão, sempre na primeira fila, nestas ocasiões...
Sei que já me tornei maçador com esta mania da fotografia. Mas que hei-de fazer?! Foi Deus quem me fez assim, quando me afeiçoo a um hobby, são anos e anos de dedicação, diria mesmo de paixão!...
Ante que o Sol se escondesse atrás das nuvens, na direção do mar, parei o carro (em segurança, quatro piscas ligados) e guardei na minha Nikon D50 com objetiva Sigma 70-300 mm, este pôr do sol.
Mais um, dirão!
Único, digo eu!...
Já Florbela Espanca escrevia...
-Sol poente
Tardinha... «Ave, Maria, Mãe de Deus ...»
E reza a voz dos sinos e das noras ...
O sol que morre tem clarões de auroras,
Águia que bate as asas pelos céus !
Horas que têm a cor dos olhos teus ...
Horas evocadoras de outras horas ...
Lembranças de fantásticas outroras,
De sonhos que não tenho e que eram meus !
Horas em que as saudades plas estradas
Inclinam as cabeças mart´rizadas
E ficam pensativas ... meditando ...
Morrem verbenas silenciosamente ...
E o rubro sol da tua boca ardente
Vai-me a pálida boca desfolhando ...
pp 107 «sonetos» de Florbela Espanca
Estudo Crítico de
José Régio
Ed. Livraria Bertrand, 1981
@as-nunes