Hoje, que fazes 88 anos, saúdo-te, Mãe, com todo o meu sentimento e amor que um filho pode ter pela sua mãe.
Sei que não andas tão bem de saúde como seria de desejar.
Sei que estás a ficar de idade já avançada e que os anos não perdoam.
Mas lembro-me bem de ti, Mãe, de tudo o que fizeste por mim, nem vale a pena estar a enumerar.
Uma imagem, que já se vem repetindo há muitos anos: de repente pões-te a olhar para mim e lembras-te do teu pai. E abraças-te a mim e dizes que me pareço muito com ele. E sorris...
Eu percebo o que sentes, só me lembro do dia em que o meu avô morreu, tu quase que nem acreditas, que eu era um miúdo que mal tinha deixado as fraldas. Mas lembro-me, Mãe! Não me lembro das feições dele. Nunca vi uma fotografia dele, sequer. E lembro-me dos óculos do meu avô. Lembro-me de os ver lá por casa, ainda no Porto, talvez naquela casa da rua do seixo, os montes caulinos no horizonte, anos 50 do século passado.
Como tu devias ter gostado do teu pai! Como o teu pai te ajudou a viver, nos teus anos de menina!...
E eu, menino, a ir com a D. Brígida à Igreja, na catequese e a todas as novenas, que tu estavas convencida que os ensinamentos da santa madre igreja eram imprescindíveis para a minha educação.
E lembro-me da tua preocupação em reveres comigo, antes de sair para a Escola, a leitura, a escrita e as contas para que eu fosse o bom aluno que fui, sempre na linha da frente. E tu toda babada...
E lembro-me bem do desgosto que tiveste quando à última hora, eu decidi que afinal não ia para o seminário. Já tinha o fato e mais umas coisas preparadas. Acabava a 4ª classe e ia para o seminário.
Como tu deves ter sonhado com o dia em que me visses a dizer a primeira missa, talvez na Igreja de N. Sra. das Neves, em Ribafeita!
Sei que, entretanto, te conformaste com a minha decisão. Que, por uma questão de princípio, nem sequer me pressionaste para eu não desistir de ir para o seminário! Acho que fizeste o que julgaste melhor para mim, Mãe!
Talvez tenha sido melhor. Talvez que eu não tivesse chegado a ordenar-me padre. Talvez que se eu o tivesse feito, teria sido um infeliz ou já tivesse pedido escusa ao Papa.
Mas os princípios por que acabei por nortear a minha vida foram balizados pela tua orientação enquanto menino e moço.
E aquela cena incrível naquele exame que fiz em segunda época, no Instituto? Aquelas peripécias todas, que não vale a pena escrever aqui e agora? Como foi decisiva a tua determinação e Fé!...
Só espero que nunca te tenha dado mais nenhum grande desgosto, Mãe!
Desculpa se hoje me deu para escrever deste modo. Foi assim que saiu este meu escrito, a pensar em ti, Mãe!
Recebe muitos beijinhos do teu filho António, que acabou por nascer com os olhos azuis, tal como o teu pai!...