Morreu o Zé Manel
Vamos hoje, nós os familiares, amigos e colegas de trabalho, acompanhar o Zé Manel à sua última morada.
O Zé Manel tinha 57 anos de idade e trabalhava comigo há 16 anos. Um amigo que dificilmente se vai esquecer. Já se estava à espera deste desfecho...há uns meses. Acompanhámos o definhar inexorável da sua vida, sempre na secreta esperança (que nós sabíamos que também era a dele...) de que pudesse ocorrer um milagre, durante 6 meses... contados quase ao minuto...principalmente pela família.
Vamos hoje, nós os familiares, amigos e colegas de trabalho, acompanhar o Zé Manel à sua última morada.
O Zé Manel tinha 57 anos de idade e trabalhava comigo há 16 anos. Um amigo que dificilmente se vai esquecer. Já se estava à espera deste desfecho...há uns meses. Acompanhámos o definhar inexorável da sua vida, sempre na secreta esperança (que nós sabíamos que também era a dele...) de que pudesse ocorrer um milagre, durante 6 meses... contados quase ao minuto...principalmente pela família.
Como em tantos e tantos casos, segundo MANDA a Natureza, Deus!
Nestas alturas a nossa memória como que se aviva. E recordamos! Recordamos muitas passagens das nossas vidas entrelaçadas pelas circunstâncias de cada momento.
Como andámos os dois na tropa, no tempo da Guerra Colonial em Moçambique, fins dos anos 60, tínhamos frequentes conversas sobre o que então passámos, especialmente ele. Parece que o estou a ver a calcorrear com o seu pelotão(**), debaixo de qualquer tempo, sob o olhar felino do adversário (aqueles que nos diziam na recruta e na especialidade, que era o IN(*) ), aqueles trilhos e picadas ao longo do caminho de ferro do Zambeze, a fazer a segurança daquela linha de comunicação e comércio, vital para os objectivos militares dos altos comandos, que ligava a cidade da Beira à Barragem de Cabora Bassa. A sede que, no decorrer das operações militares, lançados à sua sorte durante semanas, no mato, os obrigava a beber água nas piores circunstâncias imaginárias. Bem que levavam uns comprimidos para "tratar" a água mas nós bem sabemos a protecção que essa precaução lhes proporcionava. Os ataques de paludismo que teve de suportar, as mazelas que essa espécie de malária nos deixou no sitema hepático. Digo-o com experiência própria. Não integrei grupos operacionais de combate , mas sofri na pele os efeitos do clima, particularmente o paludismo. E não só eu, também a Zaida(3).
Nestas alturas a nossa memória como que se aviva. E recordamos! Recordamos muitas passagens das nossas vidas entrelaçadas pelas circunstâncias de cada momento.
Como andámos os dois na tropa, no tempo da Guerra Colonial em Moçambique, fins dos anos 60, tínhamos frequentes conversas sobre o que então passámos, especialmente ele. Parece que o estou a ver a calcorrear com o seu pelotão(**), debaixo de qualquer tempo, sob o olhar felino do adversário (aqueles que nos diziam na recruta e na especialidade, que era o IN(*) ), aqueles trilhos e picadas ao longo do caminho de ferro do Zambeze, a fazer a segurança daquela linha de comunicação e comércio, vital para os objectivos militares dos altos comandos, que ligava a cidade da Beira à Barragem de Cabora Bassa. A sede que, no decorrer das operações militares, lançados à sua sorte durante semanas, no mato, os obrigava a beber água nas piores circunstâncias imaginárias. Bem que levavam uns comprimidos para "tratar" a água mas nós bem sabemos a protecção que essa precaução lhes proporcionava. Os ataques de paludismo que teve de suportar, as mazelas que essa espécie de malária nos deixou no sitema hepático. Digo-o com experiência própria. Não integrei grupos operacionais de combate , mas sofri na pele os efeitos do clima, particularmente o paludismo. E não só eu, também a Zaida(3).
O Zé Manel morreu em consequência duma grave e irreversível doença do seu sistema hepático!
O José Manuel Solipa era um dos que faziam parte de Associações de ex-Combatentes, que têm continuado a luta pela defesa de alguns reconhecimentos do Estado pelas condições difíceis que vivemos em defesa da Pátria Portuguesa, aquela que Camões e Fernando Pessoa tão magistralmente cantaram e louvaram. Mas que também, como nós, os vivos (ainda!...), recriminamos pela falta de solidariedade para com aqueles que deram os anos áureos da sua juventude, quantas vezes a própria vida, em sua defesa!
Que, no mínimo, em honra dessas vidas sacrificadas, se olhe pelas condições de vida dos sobreviventes, uma grande percentagem a sentir problemas de saúde. E que cada vez somos menos, como podemos constatar todos os dias. Nem quero acreditar que seja esse o objectivo ao se adiar, sine-dia, várias questões reivindicadas pelas Associações de Ex-Combatentes.
O José Manuel Solipa era um dos que faziam parte de Associações de ex-Combatentes, que têm continuado a luta pela defesa de alguns reconhecimentos do Estado pelas condições difíceis que vivemos em defesa da Pátria Portuguesa, aquela que Camões e Fernando Pessoa tão magistralmente cantaram e louvaram. Mas que também, como nós, os vivos (ainda!...), recriminamos pela falta de solidariedade para com aqueles que deram os anos áureos da sua juventude, quantas vezes a própria vida, em sua defesa!
Que, no mínimo, em honra dessas vidas sacrificadas, se olhe pelas condições de vida dos sobreviventes, uma grande percentagem a sentir problemas de saúde. E que cada vez somos menos, como podemos constatar todos os dias. Nem quero acreditar que seja esse o objectivo ao se adiar, sine-dia, várias questões reivindicadas pelas Associações de Ex-Combatentes.
Já agora, uma reivindicação básica: que se conte, para efeitos de aposentação e reforma (o Zé foi dos milhares e milhares que contribuiram financeiramente para o sistema de segurança social, sem qualquer retorno...) a bonificação do tempo de serviço militar prestado em zonas de intervenção a 100%. Aquelas em que morríamos em combate. E ficávamos feridos e estropiados! E não foram tão poucos como isso!
Muito mais(2) haveria para dizer da vida e do meu relacionamento com o Zé Manel!...
Muito mais(2) haveria para dizer da vida e do meu relacionamento com o Zé Manel!...
O resto ficará para outra altura...
Descansa em Paz, Zé Manel!...
-
(**) Foi Alferes miliciano
(*) IN - inimigo
(2) O Solipa foi jogador de alto gabarito no Sport Clube Leiria e Marrazes (1965 a 1969?)
(3) Pois é. Também esteve em Nampula, enquanto prestei parte do meu serviço militar. Apesar de tudo, fui um privilegiado, que era da Administração Militar.
3 comments:
Os meus cumprimentos.
Acabei de enviar por e-mail um post de homenagem ao Zé Manel Solipa, antigo jogador do "Sport Clube Leiria e Marrazes".
Um abraço.
António Nunes
-
e-mail enviado ao Sport Clube Leiri e Marrazes, de quem o Zé Manel Solipa foi um exímio jogador de futebol, entre 1965 e 1969.
endereço do site do leiria e marrazes:
www.sclmarrazes.net
-
Este comentário foi removido pelo autor.
Olá Zé Manel
Espero que onde quer que possas estar, consigas perceber como nós, os teus colegas de escritório, ficámos com a tua memória para sempre nos nossos corações.
Esta foto que aqui está apresentada foi tirada em 2005, Setembro.
Queríamos isso mesmo, que a tua imagem de então, ficasse à nossa frente. Aquele teu olhar, inquiridor e amigo ao mesmo tempo, o teu assobio baixinho, por entre os lábios, tu a levantares-te da tua secretária, a caminhares normalmente com aquelas tuas botas de meio tacão, tu e o Zé Luis a trocarem "galhardetes" que só os amigos de longa data são capazes de fazer, a dirigires-te ao balcão a tratar duma letra, dos papéis dos carros, de assuntos dos bancos...
E a tua mão direita como que a tocar uns acordes de guitarra na barriga?!
Adeus, Zé, nós cá vamos andando até quando Deus quiser...
Post a Comment