A fundação de Leiria tem uma longa e romanesca história, cheia de incógnitas e mistério.
Uma das teorias que mais me tocam pela sua áurea de imaginário histórico, se assim nos podemos exprimir, tem a ver com a afirmação que Leiria foi fundada pelos habitantes da Vila de Eiria, no reino de Valença, trazidos por Sertório, 75 a.C. E daí vem a ligação a Viriato e a Viseu, minha terra natal. Esta hipótese é referida pelo Pde. António Carvalho Costa (Corografia Portuguesa, v. 3º, p. 66) com base em Rodrigo Mendez Silva.
De qualquer modo a única certeza provada por documentos escritos é que Leiria vem dos tempos de Afonso Henriques tendo como base que o ex-libris e símbolo desta terra, o seu Castelo, foi por si construído, o que lhe poderia proporcionar uma melhor defesa de Coimbra e uma maior aproximação das fortalezas árabes de Santarém, Lisboa e Sintra. Aliás, como é da História, Leiria foi um ponto estratégico disputadíssimo entre o nosso primeiro Rei e os Árabes. na sua resistência ao avanço dos portugueses na direcção Sul desta parte extrema ocidental da Península Ibérica. Foi assim que Leiria, como povoado, se foi desenvolvendo ao mesmo tempo que ficou sujeita a contra-ataques destruidores por parte dos Árabes, antes de terem sido obrigados a recuar inexoravelmente até à sua retirada total da Península.
Neste dia 1 de Maio de 2010 passam precisamente 500 anos sobre o dia em que D. Manuel I concedeu o terceiro foral a Leiria.
Iniciava a sua reza assim:
"Dom Manuel por Graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém Mar em África, Senhor da Guiné, e da Conquista e Navegação Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia, etc..
"A quantos esta nossa Carta de Foral, dado à nossa Vila de Leiria virem:
"Fazemos saber, que vendo nós, como o ofício do Rei, não é outra coisa se não reger bem, e Governar seus súbditos em Justiça e Igualdade... ...
... ...
Damião de Gois."
... ...
"E os termos do Relego são estes, a saber:
"Começa-se no Rio de Ulmar e na Foz de Agodim e vai-se a agua a enfesto. E sai da agua e vai-se da Lagoa de Fernão Sesta, que jaz no caminho do Coimbrão, e daí vai-se às Covas dos Lagartos, que jazem no caminho de Tomar, E atravessa a Vareja de Sirol, e daí vai-se à Cabeça do Freire e desde aí a Estrada de Torres Novas e desde aí pela estrada do Cume, que vai topar no Rio das Cortes o chamam Porto de Mem Cavaleiro, e está aí o caminho que chamam da Rutura e desde aí vai-se a uma Estrada ancha que vai pela Barreira e vai tomar pela Carreira do Paço e desde aí atravessa o Ribeiro e vai-se do Vale da Sobreira e desde aí sai-se dele, e vai-se à Codiceira e desde aí à Água do Foradouro, e desde aí vai-se por ela ao sopé, e topa no Rio Dalpentende, e vai por ele, e desde aí sai-se dele, e vai-se à Codiceira, e desde aí a uma Cabeça que chamam de mel e manteiga que está a par da Cabeça de Alcogulhe descontra Leiria, e desde aí vai-se à Mata do Esprital que chamam de Cascar alto, e desde aí pela Marinha, e vai-se ao Ribeiro daquem de Amor, e vai-se meter no Rio de Ulmar.
"E fora destes Termos e divisões, não haverá Relego."
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Ver vol I- 2ª Ed. revista e aumentada de "Anais do Município de Leiria", João Cabral - ed. CML 1993 -
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